Na segunda metade do século 18 a arte japonesa viveu um período comparado à renascença européia. Já falei um pouco aqui da arte popular da era Edo, e desta vez vocês vão conhecer um pouco sobre Maruyama Okyo, um artista revolucionário.
Durante o período Edo, que durou quase 300 anos e quando o Japão era governado pelos Samurais, o país ficou fechado. A política de isolamento nacional instituída pelo Shogunato da família Tokugawa era chamada de Sakoku. Somente chineses e holandeses tinham permissão para comercializar com o Japão, e seus navios só podiam atracar no porto de Nagasaki. O Cristianismo era banido, nenhuma publicação ou imagem cristã podia entrar no país.
Tokugawa Yoshimune, o oitavo Shogun, afrouxou um pouco o isolamento em 1720, permitindo a entrada de publicações estrangeiras, com a exceção de livros que tivessem qualquer alusão ao cristianismo. Entraram aqui para serem lidos pela elite livros holandeses de anatomia, livros chineses de medicina herbal e a partir daí os intelectuais japoneses começaram a estudar ciência ocidental e farmacologia chinesa.
Maruyama Okyo teve o privilegiado acesso a essas obras e estudou a fundo as imagens de plantas, animais e corpo humano. E a partir daí, nasce na arte japonesa a perspectiva, a sombra, as figuras tridimensionais. Sua arte floresceu em Kyoto, antiga capital que nessa época abrigava a família imperial exilada e contava com mais liberdade do que Edo, sede do governo Tokugawa.
Okyo teve como primeiro protetor e patrocinador um poderoso monge de um templo budista (que na época e até hoje aqui no Japão podem ser negócios bem lucrativos). Yujo encomendou ao artista uma obra imensa e fantástica. Três rolos de 15 metros cada, retratando o inferno e o paraíso. Como Okyo era um artista que pintava a realidade, inspirado por livros de ciência e botânica, ele retratou o inferno e o paraíso na terra, sem nada metafísico. Na primeira sequencia, imagens do inferno das catástrofes naturais: terremotos, incêndios, alagamentos.
Na segunda sequencia, o inferno causado pelo homem: cenas de violência.
E a terceira sequencia, o paraíso na terra, que no imaginário do artista seria a vida aristocrática dos privilegiados:
Essas fotos são do meu catálogo. É uma pena eu não conseguir mostrar aqui para vocês o que vi no museu. O rolo aberto é impressionante. Maruyama Okyo demorou 3 anos para completar a obra.
E esse foi só o começo da carreira desse artista ousado e que rompeu com os padrões artísticos na era Edo, inspirando muitos outros que vieram depois.
O imenso painel duplo retratando o pinheiro na neve foi comissionado pela família Mistui, na época já muito rica e poderosa, até hoje dona de um grande banco. O branco da neve não foi pintado, é a cor tela original. O efeito é lindo:
Para encerrar este post, as glicínias. Reparem no tronco, pintado em pinceladas únicas:
[twitter-follow screen_name=’Taigag’]