Muito se fala em honestidade. Em meus textos aqui no blog, é um tema recorrente. Uma sociedade saudável é uma sociedade ética e honesta, em todos os níveis – do cidadão comum às autoridades máximas. Há 5 anos vivo em um ambiente assim. E me dei conta de uma de suas principais consequências: o altíssimo nível de confiança.
Quanto mais confiança, menos stress, menos medo, menos incerteza. Confia-se no Estado, porque ele desempenha de forma eficiente seu papel de provedor de um sistema de transporte, saneamento, saúde, educação e segurança.
O Estado tem que agir com honestidade e competência, mas o mesmo deve se refletir no comportamento de cada cidadão. Os japoneses contam com um espaço público seguro e limpo, mas também são agentes nesse círculo virtuoso. Cada pessoa – adultos e crianças – sabe de sua obrigação em ser gentil com o próximo, em cuidar com carinho das praças, calçadas e parques. Quanto mais cada um cumpre seus deveres, menos o Estado é necessário para manter a ordem. E todos têm confiança não só nos serviços públicos, mas também em seus co-cidadãos.
Para se entender os efeitos positivos da confiança, é preciso pensar em seu oposto.
Quem desconfia se protege em trincheiras, de onde age na ofensiva e na defensiva.
Quem desconfia olha para o outro como um adversário, compete, não compartilha.
Quem desconfia se isola em grupos de “iguais”, foge da diferença de pensamento, pontos de vista, opiniões. Será que a origem da polarização tão destrutiva que assola o Brasil está por aí?
A desconfiança leva ao cada um por si, ao comportamento individualista e egoísta. Não é possível viver em comunidade de forma saudável assim.
E pensando nisso tudo, o que fazer? Na minha opinião, obviamente exigir que o poder público seja um eficiente provedor dos serviços que são de sua responsabilidade. Mas tão importante quanto isso, é preciso que cada um tenha capacidade de confiar no próximo. Olhar para quem está ao nosso lado com respeito e consideração. Escutar de verdade opiniões contrárias e avaliá-las sem preconceito. E quem sabe, às vezes mudar de opinião.
O que vem primeiro, a honestidade ou a confiança? Será que, de tão castigados, nós brasileiros estamos desconfiando demais? Será que todo o comportamento de defesa e ataque vem de uma ameaça real? Talvez a construção de uma sociedade mais honesta passe pela coragem necessária para que cada um de nós saia da própria bolha de certezas, que gera uma falsa sensação de segurança, e confie um pouco mais.
Brilhante texto Taiga! E vou mais longe na reflexão. Acredito que o brasileiro precisa com certa urgência adquirir confiança primeiramente, em si próprio. Confiança de que é capaz e que é merecedor de uma vida melhor, de qualidade. Confiança em apostar na educação e exigir dos representantes no governo, o que prometeram e se não tiverem condições de cumprir, que possamos ter a coragem de destituí-los do cargo público ao qual nos representa. O brasileiro precisa assumir de vez a maturidade. Deixar de lado o eterno perfil infantil e só ficar esperando o paternalismo agir. É através da maturidade e dos riscos que nos expomos e arriscamos ser melhores dia a dia. Ficar sentados esperando que as soluções caiam do céu, já não convence mais ninguém. Mas precisamos acionar essa coragem que se encontra dormente em todos nós e nos tornarmos protagonistas de nossas próprias histórias. E nessa eu me incluo também. Já tenho refletivo e muito sobre todas essas questões e penso que está mais do que na hora de agirmos antes que seja tarde.
Tem toda a razão, Roseli! Obrigada!