Logo depois que soubemos que iríamos morar fora do Brasil, um amigo disse que eu me sentiria como se estivesse em férias permanentes. Depois de pouco mais de 2 anos, não é exatamente essa a minha sensação, mas é parecida.
Aqui em Tóquio me livrei de todas as causas desnecessárias de stress. Mesmo sabendo que um terremoto pode acontecer a qualquer momento, vivo sem medo. Ando distraída pela rua sem nenhuma preocupação. Deixo meus filhos brincarem livres em um parque público enquanto leio um livro. Não preciso ter carro aqui, me livrei da tensão no trânsito. Tenho a escolha de me locomover de metrô, ônibus ou bicicleta, e sempre sei exatamente a que horas vou chegar ao meu destino. Nunca mais tive que correr ou me atrasar para um compromisso. Se preciso pegar um táxi, tenho a certeza de que o motorista é de confiança e não vai cobrar a mais. Aliás, se por um acaso ele erra o caminho, devolve a diferença.
Não é uma sensação de estar em férias, é a experiência de viver em um país que me proporciona direitos básicos. Sinceramente: isso é pedir muito? Poder ir e vir com liberdade, sem medo; poder compartilhar o espaço público em harmonia com os outros cidadãos; ser tratada com respeito e cordialidade; morar em uma cidade limpa; ter à disposição diversão gratuita no fim de semana nas inúmeras praças e parques impecavelmente administrados.
Conversando com uma amiga alemã hoje eu tentava explicar um pouco o que escrevi acima. Ela não conseguiu entender porque nunca viveu tendo sua energia sugada pelos pequenos e grandes problemas que corroem o dia-a-dia do brasileiro. Enquanto eu estava imersa no caos do meu tão amado e maltratado Rio de Janeiro, não me dava conta do quanto eu era consumida um dia depois do outro. Ter que pagar uma conta no banco enfrentando uma fila imensa e a falta de educação de uma atendente; pisar em uma poça de esgoto em um dia de chuva ou voltar de um dia na praia e não encontrar a minha bicicleta. É claro que tudo isso e muito mais já aconteceu comigo, faz parte da rotina do carioca, é normal. Vivi toda a minha vida assim e, anestesiada, quase não me indignava mais. Pois agora confesso que estou cada vez mais revoltada com o que eu aceitava resignadamente. Não, não é normal. Normal é ter a liberdade de andar distraída.
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realmente vc vive no paraíso..Parabéns de coração mas tudooo tem defeitos todo ser humano…nada é perfeito e não creio q seja dessa maneira Mas respeito sua opinião Eu não saiooo mesmo daqui Amoo meu País.Aqui não tem guerra Nem terremoto .Nem loucos ,psicopatas q saem pela rua metralhando gente Obrigada
[…] tem um silêncio que vem da falta do stress que nos consome tanto no Brasil, aquele que descrevi em A liberdade da andar distraída. Aqui consegui olhar para dentro e desatar muitos nós do passado. Ao conviver melhor comigo, a […]
Muito lindo tudo isso, mas não é minha terra natal , não é meu povo mesmo sendo do jeito que é. Não me sentiria tão à vontade na casa dos outros ! Amo meu país com todos seus defeitos , mas tem muiuitas qualidades também! Cada um é cada um
Exatamente isso,qdo voltei no Brasil.as pessoas me achavam chaterrima,porque tentava mostrar essas diferenças. Lastima!
Infelizmente os 204 milhoes de abitantes desse nosso querido Brasil, nao poderao experimentar talvez a experiencia de mudar de vida e de Paìs, mas o texto é excelente e diz a realidade do brasileiro, também maltratado pelo seus proprios governantes. Isso é um sonho e as palavras estao certamente na boca e nos pensamentos da maioria que vive por aqui…!! Gloryane Vasconcelos de Fortaleza-CE.
Não podemos perder a esperança de um dia vivermos assim!
Não se trata de esperança e sim de escolha de governantes. Sem mudança destes políticos corruptos que estavam até há pouco no comando nada se pode esperar. Veja que os nossos governantes são nossos exemplos. O que qualquer um faria tendo estes exemplos e se tivesse um filho doente e não tivesse dinheiro para comprar um remédio ? Se eles roubam porque você não faria o mesmo para salvar um filho seu ?
A corrupção é a maior lastima deste país. Temos que correr estes ladroes e bota-los na cadeia como exemplo e talvez assim, em 20 ou 30 anos possa estar um pouquinho melhor.
Não estarei aqui para ver….
Que beleza ! Adorei o texto.
Maravilhoso !!!!
Depois de ler esta comentário, me sinto um pessoa triste no meu País!
Muito bom! Tenho experimentado esse estilo de vida em Portugal.