Minhas meninas

Minhas amigas. O caminho da minha vida é pontuado por elas, que me orientam, inspiram, suportam, me empurram para frente. Quando criança e adolescente, era muito tímida e solitária. Poucas amigas. Amigas responsáveis pelas lembranças felizes dessa fase complicada da vida. Maria Paula, Mônica, Eduarda, Maria Eugênia, Fernanda, Luciana, Aline. Companheiras de épocas diferentes, de longas conversas, cumplicidades, conflitos infantis e adolescentes, dramas femininos e tão imaturos. Fernanda é, há quase 30 anos, a irmã que não tive. Não sei se existem outras vidas, mas se existirem, estivemos sempre juntas.

Os tempos de colégio, tão difíceis para mim, deram lugar à liberdade e ao primeiro contato com textos e ensinamentos que começavam a fazer algum sentido. No fim da faculdade, Adriana me acompanha em uma viagem inesquecível, transição entre a liberdade da juventude e o início tão incerto e assustador da vida adulta.

Primeiro emprego, um grupo de jovens jornalistas cheios de ideias e energia. Cristina, Aninha, Teresa, Giane e tantas outras me ajudaram a tatear por aquele mundo tão novo, de onde saí cedo por perceber que não era ali o meu lugar. Casamento e filhos me trazem Tiane, Viviane e Ana. A primeira virou família, batizou o Felipe, me tornou madrinha do Rafael. Cúmplice de todos os momentos, me entende muitas vezes ainda mais do que eu mesma. Sabe o que eu estou sentindo antes que eu consiga enxergar. Viviane é confidente, parceira, exemplo de mulher forte que acredita no seu ideal, constrói em seu trabalho um caminho coerente e lindo. Ana, forte, amiga generosa de tantas outras mulheres, nunca lhe falta energia para ajudar qualquer uma que precise, inspira, compreende e dá força.

Decidi sair do meu primeiro trabalho para descobrir o que queria fazer da vida. Volto para a faculdade. No Mestrado, Larissa, Érica e Ana Lúcia dividem comigo o mesmo orientador de dissertação e teorias, questionamentos, leituras a aprendizados. Por causa da minha filha, que começa agora a conhecer suas primeiras amigas, ganhei de presente a Carla, que me ensina tanto sobre educação e a Tati, mãe da primeira melhor amiga da Isabel, que virou também minha amiga.

Depois de anos estudando e cuidando dos meus filhos, sempre amparada por muitas dessas mulheres que já faziam parte da minha vida, um novo trabalho me traz outra Carla, mais uma Fernanda, duas Julianas, Irene, outras Anas. Amizades que começam e que a vida trata de interromper quando me mudo para o Japão. E fico sozinha, sem amigas.

E é aí que percebo o imenso espaço que elas ocupam em minha vida, quando me dou conta do vazio que se forma. Porque para uma mulher, as amigas são o leme do barco que conduzimos em nosso caminho por esse mar tão imprevisível. Como ficar sem as conversas nos almoços com a Vivi? Como ficar sem o abraço e a cumplicidade da Fernanda? Como ficar sem os encontros de fim de semana com a Tiane e minha família do coração?

No começo da minha jornada nesse país tão diferente, mais uma Ana aparece. Tão generosa, doce, primeira amizade por aqui. E dentro do silêncio que essa vida nova me traz, encontro finalmente minha vocação, depois de buscar por tanto tempo. O que eu amo fazer é escrever. E eu começo, publicando nesse blog textos que de início quase não encontram leitores. E a força tão necessária para continuar vem, é claro, de mais amigas. Amigas leitoras. Cristina, Tamara, Eduarda (aquela mesma da infância), Lúcia. Elogios cheios de amor e estímulo me impulsionam e é por isso que continuo escrevendo.

Hoje, tenho amigas lindas que o Japão me trouxe. Anna Cláudia, com quem dividi tantas histórias da minha vida. Nossas longas conversas valeram mais do que qualquer terapia. Estela, Alessandra e Donatella, que mergulham comigo nesse país tão diferente e me ajudam a aprender olhando para fora e também para dentro. Katja, cheia de luz e que conquistou meu coração, me trouxe Micaela, Sarah e Kirsten, companheiras de trocas bem mais maduras do que aquelas do início da vida, sobre a criação de nossos filhos, sobre os maridos, sobre incertezas e deleites da vida de quem mora fora de seu país. Elas são da Áustria, Argentina, Itália e Alemanha. A prova de que o que une as mulheres não tem a ver com cultura, com raízes, com identidade. Tem a ver com o feminino. Todas nós temos um imenso espaço no coração para abrigar as meninas que aparecem no caminho. Eu pelo menos, sem elas não sou completa.

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