Ciclos

Todo ano no início da primavera, o povo daqui mergulha no ciclo de vida das flores de cerejeiras intensamente. Curtem todas as fases, desde o surgimento do botão nas árvores secas até a queda das pétalas, quando já começam a nascer as folhas verdes que ficarão até o outono. Para uma carioca que não está acostumada com mudanças nas estações, é uma experiência que ensina muito.

Minha professora de japonês, Izumi, comentou uma vez que o sentimento deles nessa época é uma mistura de contemplação, festa e também tristeza. Ao testemunhar um ciclo tão rápido, que dura em média 2 semanas, lembra-se do quanto a vida é curta. As sakuras são uma metáfora do nascimento, vida e morte de todos nós. Constatamos que tudo tem fim, e esperamos o recomeço que virá um ano depois.

A contemplação da beleza efêmera me lembra o quanto é importante viver no presente, e não antecipar tanto o futuro. O cenário que pintamos dentro do nosso processo de ansiedade muito raramente se concretiza, por isso não há razão para gastarmos nossa energia imaginando o que vem pela frente. Até porque quando estamos fazendo isso deixamos de viver o agora.

A metáfora das cerejeiras serve para deixar um pouquinho de energia positiva e inspiração por aqui. Gostaria muito de ter presenciado e filmado essa cena, que me foi contada por uma querida amiga, Estela. Ela estava passeando por entre as cerejeiras em flor quando percebeu um grupo reunido embaixo de uma árvore. Eles observavam embevecidos  alguns passarinhos que brincavam com as flores, cantando e pulando sobre os galhos. O movimento fez com que uma pétala se soltasse e caísse lentamente. Neste momento, todos soltaram um “oooohhhh” ao mesmo tempo. Uma simples pétala pode causar felicidade quando estamos realmente mergulhados no que nos cerca, sem a poluição causada por tantos pensamentos e antecipações de um futuro desconhecido.

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