O imprescindível diálogo

 

Estou sentindo que muita gente no Brasil está precisando exercitar a arte de escutar. Para escutar, é preciso ter humildade e generosidade. A humildade nos permite reconhecer que é impossível estar completamente certo sempre e que podemos mudar o que pensamos. E para que isso aconteça, há de se ter generosidade para admitir que o outro pode ter razão. Essas ações são básicas para que haja o diálogo, imprescindível sempre. De longe, observo que a discussão política no Brasil nunca esteve tão polarizada. Vejo dois lados intransigentes, é preciso encontrar os pontos de convergência. Em qualquer argumentação bem feita, a concessão é fundamental. Conceder que posso estar errado em alguns pontos e que o outro lado pode estar certo em outros. Aposto que muitos vão achar esse primeiro parágrafo do meu post ingênuo, simplista ou utópico. Vou tentar argumentar o contrário, mas respeito todos os que discordarem.

Não sou budista, mas há anos leio livros sobre meditação e agora que vivo em um país onde essa prática é tão enraizada, mergulho cada vez mais em uma filosofia de vida que cultiva a introspecção e amplifica a absorção do que nos cerca. O Budismo ensina que devemos observar bem de perto nossas emoções, identificar as que são nocivas e dissolvê-las. As emoções positivas devem ser cultivadas e são elas que precisam nos mover. O autor Matthieu Ricard diz que o egocentrismo que coloca o eu no centro do mundo tem um ponto de vista inteiramente relativo. O nosso erro está em nos prender ao nosso ponto de vista e esperar, ou pior ainda insistir, que o “nosso” mundo vai prevalecer acima do mundo dos outros. Tolstoi, em “Guerra e Paz”, diz que nenhuma verdade se apresenta a duas pessoas da mesma maneira e que a totalidade das causas de um fenômeno é inacessível à mente humana.

Em minha visão, o que atrapalha demais é a dificuldade tão comum que muitos tem em olhar para o que nos cerca admitindo a complexidade. As teorias conspiratórias que alimentam argumentos dos dois lados nascem da atração em se explicar a realidade como se ela fosse moldada por poucos, superpoderosos e manipuladores agentes. Essa maneira de pensar é confortável porque tira a responsabilidade que cada um tem sobre o que acontece hoje ou vai acontecer no futuro. Se tudo é arquitetado por quem tem o poder, se os problemas que temos acontecem por causa do governo, da grande mídia ou de alguma outra entidade que está acima de todos, o que eu posso fazer? Continuar olhando para meu mundinho, vivendo a minha vida individualista. Ah, é claro: e reclamar contra tudo o que esta aí.

E se essa energia combativa se transformasse em uma conversa em que todos falam e todos escutam? Existem pessoas que querem o bem do Brasil dentro dos partidos, entre os empresários, nos sindicatos, em cada associação de moradores, na grande mídia, no governo, na oposição.

Não deixo de me perguntar: por que o Brasil, um país com uma riqueza quase indecente, que não sofre com catástrofes naturais, que não foi palco de guerras, nunca foi bombardeado, não é hoje um país de primeiro mundo? Falo um pouco disso em outro post, Meu país adolescente.

Reclamar e colocar a culpa no outro é muito fácil. Difícil é admitir que cada da um de nós é responsável e pode ser um agente de mudança.

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