Quem acompanha meu blog sabe que defendo o olhar complexo, não acredito em teorias simples, totalizadoras e maniqueístas sobre nenhum assunto. Portanto, deixo claro que o que vou relatar aqui é apenas o ponto de vista de uma jornalista carioca que mora em Tóquio, construído a partir das minhas referências do presente e do passado, é apenas um dos incontáveis possíveis olhares sobre alguns aspectos do Brasil. Graças a essa maravilhosa ferramenta de compartilhamento de ideias que é a Internet, tenho a oportunidade de contribuir um pouquinho para um grande debate que considero muito necessário.
Pois bem. Estou vivendo no Japão, país oriental de cultura milenar, com muitos problemas principalmente em seu passado, mas que me chama a atenção por dois pontos que considero positivos e que faltam no Brasil: a valorização do bem estar coletivo e o olhar para o futuro. Sobre o primeiro ponto escrevi um pouco no post Outros. O segundo está relacionado à capacidade que eles têm em pensar a longo prazo, o que na minha opinião reflete uma maturidade da sociedade japonesa. A renovação da mega estação de trens e metrô de Shibuya vai ficar pronta em 2027. No mesmo ano deve entrar em operação o Maglev, trem que pode ultrapassar os 600 km por hora, quase o dobro do para mim já perfeito Shinkansen.
E aí eu reflito: o que os impulsiona a se dedicar tanto em projetos que serão lançados daqui a tanto tempo? O bem estar da população, é claro. O que vejo no Brasil? As “soluções” valorizadas são as que podem dar retorno a curto prazo, em outras palavras, dividendos políticos a quem quer ser reeleito. E essa mentalidade infelizmente não está só em quem governa, mas em muitos brasileiros que só se preocupam com o que os afeta pessoalmente. Sobram individualismo, egoísmo, malandragem, jeitinho. Faltam generosidade, humildade para escutar o que o outro tem a dizer, capacidade de trabalhar em grupo pelo bem de todos. Falta empatia. Sobram selfies e egotrips nas redes sociais.
Tenho visto o meu país como um adolescente sem rumo. Imaturo, confuso, inexperiente, preguiçoso, não se dá conta do que está acontecendo a sua volta (resto do mundo), não mede as sérias consequências do que faz. Vive aos tropeços, sem se preocupar com o futuro, achando que no fim tudo vai dar certo. E o que me revolta é que temos uma riqueza quase indecente, ainda mais quando comparo com essa pequena ilha vulcânica em cima de várias falhas geológicas em que estou vivendo. O Brasil tem recursos naturais abundantes, uma área imensa de terra fértil, uma população jovem. E não temos um passado traumático, não tivemos que cicatrizar profundas feridas de guerras ou nos recuperar diversas vezes de catástrofes naturais. O que nos falta é maturidade, clareza para enxergar o inacreditável potencial que temos para ser um grande país.
O Brasil poderia estar na ponta em iniciativas de desenvolvimento sustentável, ser um dos grandes agentes responsáveis pela salvação do planeta nas próximas décadas. Poderia. Sobra potencial. Sobram recursos naturais. Sobra terra. Temos a mão de obra jovem. Falta competência, honestidade e vontade de fazer.
Mas sou uma otimista incurável. Em minhas viagens pelo Sudeste Asiático, fui à Tailândia e à Indonesia, dois dos “Tigres” que nos anos 90 viveram uma bolha de crescimento. Fizeram tudo errado e o que vi foi uma profunda desigualdade social. O Brasil está bem melhor, o adolescente vai aprendendo bem devagar, três passos para frente, dois para trás. Acho que nos últimos dois anos demos mais alguns passos para trás, mas a maturidade chega assim e tenho esperança na geração de jovens que começa a se levantar. Acho que muitos deles são muito mais engajados do que a minha geração foi aos 20 anos. Ano passado, nas eleições, fiquei muito triste em ver o caminho da conciliação ser esmagado pelo da polarização. Mas ele ainda pode ser retomado.
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Como sabemos este é um país imenso, cheio de contrastes e desigualdades. Uma colcha de retalhos onde vemos muitas coisas boas sendo feitas em prol do coletivo em muitas cidades de norte a sul, no interior principalmente. Mas nos grandes centros, aí realmente vemos que tudo falta. Falta educação, saúde, respeito, segurança, Falta justiça, honestidade, desejo de fazer dar certo, e acima de tudo, acho que falta esperança. Esperança de que possamos ver nossos filhos e netos crescerem com confiança num futuro saudável, para os homens, para a natureza, para as águas e para o ar que respiramos.
Ao contrário de você, Taiga, faz pouco mais de 4 anos que retornei do Japão ao Brasil, depois de morar e trabalhar aí por 12 anos. Voltei e comecei a cursar Direito (estou atualmente no 4º ano), com vista a seguir uma carreira jurídica. No decorrer dos estudos, não muito tarde, chego à conclusão de que o Direito brasileiro vive uma crise, principalmente no campo penalista, muito por conta do tratamento desigual dispensado pelo Estado aos seus jurisdicionados, da sensação de impunidade por crimes de homicídios e corrupção, das inúmeras brechas na legislação que viabilizam a procrastinação de decisões judiciais ou, até mesmo, a prescrição de ações, dentre muitas outras mazelas que assombram os porões do Direito pátrio. Contudo, filiando-se ao entendimento da professora e jurista Teresa Wambier, acredito piamente que os problemas enfrentados na ordem jurídica são reflexos da própria sociedade brasileira, que deixa a seriedade de lado para contemplar, assim como tem dito em seu texto, a individualidade, a malandragem, o jeitinho tupiniquim. O Direito nunca ficará salvo enquanto existir crise nos demais setores da sociedade. Penso que a educação e a seriedade são pedra de toque para alcançarmos essa maturidade social conquistada pelo povo japonês.
Avaliacao perfeita!
Concordo em muitos aspectos com sua visão do Brasil e dos brasileiros, em particular. Somos imediatistas, uma cultura mesclada, mestiça, no sentido da falta de identidade. Os valores que as novas gerações estão digerindo estão longe do pensamento do bem comum, do olhar coletivo….vivemos e compartilhamos do salve-se quem puder; do ” primeiro eu e os,outros que se danem”, e por aí vai. Da camada que governa nem precisamos nos aprofundar. Que mensagem deixam para a geração que está chegando aos 18 anos.? Um oriental que for flagrado roubando um bem público, se apropriando de dinheiro público, o que acontece com ele? É seguramente e severamente punido. Do lado de cá estamos a passos de jabuti….
Sua reflexão motiva reflexão. Somos, sim, adolescentes. Mas no rumo em que estamos, seremos adolescentes a caminho de uma casa de recuperação. Um grande muro nos impede de ver o futuro…..