Entre as várias atividades do horário extenso da escola internacional de meus filhos aqui em Tóquio, a minha favorita é a Kids-4-Kids. Inspiradas pelo incrível professor Jared Johnson, as crianças trabalham para ajudar outras crianças menos privilegiadas. Todo o processo serve como aprendizado. Neste ano, eles escolherem ajudar as crianças de uma escola do Camboja, que já tem uma relação bem próxima com a Tokyo International School. Meninos e meninas de 10 a 15 anos, moradores do vilarejo de Tuknakvit, têm aulas de inglês e de computação graças ao patrocínio que vem da escola daqui, em um projeto chamado Tokyo Inspired School.
A turminha do Kids-4-Kids avaliou que seus colegas cambojanos precisavam de computadores novos. Pensaram em maneiras de arrecadar o dinheiro necessário e trabalharam bastante nos últimos meses, fazendo pulserinhas para vender aos amigos e organizando pequenos eventos na escola para receber doações. O próximo será a sexta-feira casual, os alunos vão poder ir para a escola com qualquer roupa, pagando o equivalente a 1 dólar. Simples, não?
De pouquinho em pouquinho, meu filho e seus amigos conseguiram recolher o suficiente para um computador. Com a passagem doada pela associação de pais e alunos, Jared esteve em Tuknakvit para levar o computador e trazer para os alunos daqui as histórias de uma realidade tão diferente. Pedi para contar uma das histórias aqui no blog, traduzindo para o português o texto que ele publicou no jornal da escola. Jared também me mandou as fotos da viagem, e me pediu para divulgar o link da organização que centraliza os projetos de educação no Camboja: http://www.cambodiaschools.com
Nareth é uma das meninas que aprendeu inglês na Tokyo Inspired School e se esforça muito para espalhar seu conhecimento para o máximo de crianças que puder em sua cidade.
Nas palavras de Jared Johnson (traduzidas por mim…):
“Nareth estuda na TIS Camboja há 3 anos. Hoje ela tem 19 anos de idade e logo vai se formar no Ensino Médio. Por saber que em seu país saber inglês é fundamental para quem quer ter algum sucesso na carreira, aos 16 anos Nareth começou a ensinar para outras crianças o que já havia aprendido em sua escola. Ela cobra o equivalente a 10 centavos de dólar por meia hora de aula. Quando sabe que a família não pode pagar o valor, dá as aulas de graça. Cinco noites por semana ela ensina inglês a mais de 40 alunos.
Nareth quer ir para a Universidade quando acabar o Ensino Médio, mas não sabe se outra pessoa assumirá seu lugar. Os pais do vilarejo não querem que ela vá embora. O dilema se soma à dificuldade que ela terá para pagar a Universidade, caso decida ir.
Ela é a mais velha de três irmãos. Seu pai cuida do gado perto de casa. Sua mãe trabalha em uma fábrica de 6 da manhã às 10 da noite, 5 dias na semana e até meio-dia no sábado. Ela está juntando dinheiro para mandar a filha para a faculdade. Seu salário é de 90 dólares por mês, um pouco aumentado pelas horas extras. Todas as manhãs, a mãe de Nareth sobe na boleia de um caminhão com outras 40 a 60 pessoas e vai para o trabalho. Três anos atrás, se feriu em um acidente. A família teve muitas despesas para mandá-la para o hospital, e até hoje ela tem dores de cabeça.
Nareth me pediu para transmitir seu agradecimento pela nossa ajuda. Ela é um grande exemplo de como podemos fazer a diferença em uma comunidade.”
[…] de contar com a ajuda de organizações internacionais, expliquei um desses exemplos no post Escola no Camboja. A escola da foto ainda não teve essa sorte, mas as crianças estão sendo alfabetizadas. Hoje […]
Incrível este trabalho. Mais incrível é ver que basta um pouquinho para ajudar a tantos. E é assustador saber como existem tantos, vivendo com tão pouco.
O que mais me toca é a solidariedade que existe entre os menos favorecidos.
Isso mesmo, Irene. Eu fui encontrar esse tipo de atitude do outro lado do mundo. Me incomoda muito pensar que no Brasil muitos reclamam demais e fazem de menos. A sociedade civil pode sim se organizar e tentar fazer diferença. E é muito importante as nossas crianças saírem de sua bolha privilegiada e tomarem consciência da realidade à sua volta. Adorei essa minha nova leitora! Obrigada por ler meus textos e pelos ótimos comentários!
Esta solidariedade humana ensinada às crianças foi assunto de uma conversa minha com uma sobrinha que mudou há pouco para Champaign, Il. USA. Ela tb viu esta consciência entre as crianças colegas dos filhos (idade dos seus). Existe sempre algum tipo de envolvimento em atividades extra curriculares, voltadas para o bem do outro.