Estou morando no extremo oposto do Rio de Janeiro. Geograficamente e culturalmente. Tóquio é muito longe e muito diferente da minha cidade. E ainda não consegui encontrar nada em comum entre os japoneses e os brasileiros, muito pelo contrário. Esse choque cultural começa a me afetar de uma maneira nova, e o sentimento que aparece é confortador.
O sentimento de pertencimento à minha identidade: Ocidental, Latina, Brasileira e Carioca, com muito orgulho. Ao me sentir diferente dos que me cercam, me sinto bem. O estranhamento faz com que eu valorize o que sou, minhas raízes. Vou tentar explicar:
Primeiro, uma ressalva: neste blog, descrevo as minhas impressões, o que eu percebo a minha volta durante essa experiência que estou vivendo em Tóquio. Não estou fazendo nenhum estudo antropológico e nem acho que isso seja possível, ainda mais por um ocidental. A lógica dos japoneses é outra, e não pretendo tentar entendê-la, só observo e relato as minhas percepções.
O que tenho percebido é que os japoneses que vivem em Tóquio, quando circulam pela cidade, estão cada um em sua bolha particular. Não vejo interação entre desconhecidos. No metrô, estão de olhos fechados ou olhando para o celular. A minha impressão é que são reservados, tímidos ao extremo, não há conexão entre estranhos, o indivíduo está voltado para dentro de si. Ao mesmo tempo funcionam perfeitamente no coletivo, há muito respeito e cordialidade, mas é como se cada um fosse uma peça de uma imensa máquina.
Às vezes acho isso bom, porque me dá uma sensação de liberdade imensa. Sendo Gaijin, que é como eles chamam os ocidentais, estou fora do grupo, portanto, independente. Ando pelas ruas com meu passo arrastado de carioca, minhas roupas coloridas, ouvindo as minhas músicas do itunes, sem dever nada a ninguém. Em outros momentos, porém, o sentimento de solidão transborda.
No Rio, todos se olham, se observam, mesmo sem se conhecer. Há uma comunicação permanente no ar, uma troca de energia que envolve a todos e que liga os cariocas também à sua cidade. Passei toda a minha vida nesse habitat, meu amor pelo Rio de Janeiro é visceral, sem medida. E me sinto cada vez mais pertencente à minha cidade, à minha cultura. O estranhamento está reforçando e reafirmando a minha identidade.
Estou vivendo intensamente essa experiência tão enriquecedora. Quero mergulhar no oriente, aprender japonês, tentar conhecer ao máximo tudo o que me cerca aqui, seguir no caminho que se forma à minha frente aberta para o que vier. Mas repito: sou Ocidental, Latina, Brasileira e Carioca.
[…] cultura que antes nem percebíamos e que começam a fazer falta. Escrevo sobre esse sentimento em Pertencimento. Mas fico sim deslumbrada com muito do que presencio aqui e isso me faz olhar para o meu Brasil de […]
OI Taiga, Tenho lido o seu blog e gosto muito. Você escreve de uma maneira simples e simpática. Vou visitar o Japão em maio do ano que vem e pretendo ler bastante sobre Tóquio principalmente. Desejo um ótimo Natal e um Ano Novo muito rico de experiências e conhecimentos para você e família! Parabéns pelo seu blog. Um super abração.
Obrigada, Maria Helena! Você vai adorar o Japão!
Olá! Morei 20 anos aí e também passei por essa fase. Resumindo: Primeiro vc se encanta com o país , depois se decepciona e finalmente… ENTENDE. Somos diferentes, com qualidades e defeitos. Não teria graça se fôssemos iguais.
Que engraçado – embora tome um rumo totalmente diferente, seu texto me lembrou um sentimento forte que tive vivendo como expatriada na África (http://www.nhatinha.com/blog/2011/07/18/sobre-ser-expatriado/)
Acho que viver fora do Brasil, seja onde for, deixa muita coisa mais clara e nos põe em situações comuns. Meu caso, foi igual o seu: voltei amando mais ainda ser brasileira e ter nascido latina, misturada, uma “bagunça” só!
Seu blog é uma delícia de ler! Espero que o Japão te traga ainda muitas surpresas boas e momentos felizes 🙂
Que delícia de comentário, Renata! Vou ler seu blog também! Obrigada!
Taiga, experimente passear pelo bairro de Shibuya…vai ver um outro Japão.
Eu moro no Japão há 23 anos, e neste tempo tive varias impressões sobre a cultura e o cotidiano daqui. O seu modo de enxergar é muito legal, me faz pensar em outros modos que eu não havia percebido.
Só uma resalva com relação aos impostos, não são tão altos assim, ao meu ver, do salário são descontados de 0 a 10 % conforme a condição do dependentes,( do meu salário é descontado 4% ), e com relação a serviços e compra de produtos é pago 5%, (a partir do mês 4 vai aumentar para 8% ) que é descrito nas notas fiscais e tiques da registradora.
Cara Taiga: sou nissei, nasci e vivi a vida toda em São Paulo, fui a passeio ao Japão em 2011 e conheci o país como turista, fiquei encantada com a beleza (as cerejeiras estavam em flor), a educação dos japoneses, a limpeza e a organização dos lugares e principalmente, emocionada de conhecer o país de meus antepassados.
Vou ler as tuas postagens para ter uma visão mais realista de quem vive o dia-a-dia no Japão. Estou adorando. Um abraço. Helena
Olá, Helena. Fico muito feliz em saber que você está gostando do meu blog. Já conheci alguns dekasseguis aqui, muitos filhos de japoneses, como você. A comunidade brasileira é muito batalhadora e unida, e transmite uma alegria contagiante.
Prezada Taiga Correa, senti na pele esses seus sentimentos vividos em Tóquio, quando fui morar/estudar na Europa, em 1980. Agora imagine um cearense (nordestino) que nunca tinha viajado de avião ir morar sozinho num local totalmente diferente.
Escutei a poucos minutos sua entrevista na rádio CBN-Brasil. Beleza!
Parabéns pelo seu Blog e muito sucesso!
Abraços,
José Fernando Mourão Cavalcante
Fortaleza-CE-Brasil
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OBS.: Procurei a palavra “Pertencimento” no dicionário Aurélio e não encontrei ??
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Prezado José Fernando, estou muito feliz com os novos leitores que estão chegando depois da entrevista. A experiência do expatriado é mesmo muito rica, às vezes solitária, mas fascinante.
Utilizei bastante o termo “Pertencimento” na minha dissertação de mestrado, onde pesquisei a relação entre o telejornalismo e a cidade. Se quiser, pode dar uma olhada não capítulo 2, este é o link em PDF: http://www.lambda.maxwell.ele.puc-rio.br/acessoConteudo.php?nrseqoco=34022
Cito o autor Mario Wilton de Souza, que discorre sobre o tema em seu texto “Práticas de recepção midiática como práticas de pertencimento público”, publicado no livro “Recepção midiática e espaço público”, editora Paulinas, 2006.
Abraços,
Taiga.
Por isso somos amigas…Entendo perfeitamente o que você está sentindo e fico muito orgulhosa de ser sua amiga! Também amo minha cidade e sinto muita pena de que este lugar maravilhoso em que vivo seja tão mal cuidado e abandonado.
bj
É Taiga vocês estão vivendo uma situação provisória mas enriquecedora e aproveitar essa oportunidade única é uma sapiência que não se pode desperdiçar. Daqui tenho aproveitado suas experiências. Obrigada e um ótimo final de semana. Bjs a todos vcs.