Complexidade

Resolvi escrever este post depois de ver o vídeo que mostra o repórter da Globo News sendo agredido e impedido de trabalhar durante uma manifestação no dia 7 de setembro de 2013. Deixei o Brasil dias antes de começarem os primeiros protestos. Estou longe, muito longe geograficamente de tudo o que está acontecendo por aí. Mas sou jornalista e abordei o tema da complexidade das relações entre a televisão e a sociedade na minha dissertação de Mestrado.

O que me incomoda muito é a força que ganha novamente a visão maniqueísta e simplista sobre o tema. Esse é o caminho fácil: explicar tudo como se existisse o bem e o mal, o certo e o errado. Não é assim. Não há repostas, mas sim vieses, mediações, negociações.

Olhar para a realidade em sua complexidade é difícil. É mais fácil evitar os questionamentos, as dúvidas, e acreditar na polaridade do certo e errado. Colocar a culpa de todos os males na mídia, como se fosse uma entidade única detentora de um poder ilimitado e unilateral sobre uma massa passiva é uma maneira de encontrar uma resposta para questões que não são simples.
A mídia não é uma entidade única. É composta por indivíduos de carne e osso. Pessoas que trabalham muito e na maioria das vezes tentam sim olhar os diferentes lados de uma história para traduzir e esclarecer um pouco o caos em que vivemos. Cada jornalista tem a sua vivência, experiência, bagagem. Cada plantão, cada matéria, cada madrugada trabalhando na rua ou na redação vazia, cada pessoa entrevistada, cada erro, fazem parte do crescimento de um profissional que não tem horário certo, se dedica inteiramente ao seu ofício e ama o que faz.
E os telespectadores, leitores e ouvintes não são uma massa passiva. São indivíduos que pensam, questionam e interpretam as mensagens cada um da sua maneira, de acordo com as suas referências.

A relação entre Comunicação de Sociedade é discutida exaustivamente por autores da América Latina, Europa e Estados Unidos há anos. Duvido que algum desses jovens que agridem jornalistas na rua já tenham lido esses textos ou tenham se aprofundado sobre essas questões. Quando se tem 18, 20 anos, a prepotência é muito maior do que o conhecimento, a experiência de vida. Eu também já fui assim.

Diria para um menino desses o seguinte (é claro que ele não iria me escutar…): Leia muito, conheça história, geopolítica mundial, literatura. Rale muito em uma redação de jornal ou TV, vire a noite em plantões, vá ver como é a rotina de um repórter de rua. Daqui a 20 anos a gente conversa de novo…